quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A renúcia impossível

Negação
Não creio em mim
Não existo
Não quero eu não quero ser
Quero destruir-me
Atirar-me de pontos elevadas
E deixa-me despedaçar
Sobre as pedras duras das calçadas

Pulverizar o meu ser
Desaparecer
Nao deixar sequer traço de passagem
Pelo mundo
Quero que o não – eu
Se aposse de mim
Mais do que um simples suicídio
Quero que esta minha morte
Seja um  verdadeira novidade histórica
um desaparecimento total
Até mesmo nos cérebros
Daqueles que me odeiam
Até mesmo no tempo
E se processo a história
E o mundo continue
Como se eu nunca tivesse existido
Como se nenhuma obra tivesse produzido
Como se nada tivesse influenciado na vida
Como se em vez de valor negativo
Eu fosse zero
Quero acender
Elevar-me até atingir o zero
E desaparecer
Deixar-me desaparecer!
Mas antes vou gritar
Com toda a força dos meus pulmões
Para que o mundo oiça:
Fui eu quem renuncio a vida!
Podeis continuar  ocupar o meu lugar
Vós os que mo robaste
Aí tendes o mundo todo para vós
Para mim nada quero
Nem riqueza nem pobreza
Nem alegria nem tristeza
Nem vida nem morte
Nada
Não sou e nunca fui
Renucio-me
Atingi o zero
E agora
Vivei cantai chorai
Caisa-vos  matai-vos  embriagai-vos
Dai esmolas aus pobres
Nada me pode interessar
Que eu nao sou
Atingir o zero
Não contem comigo
Para vos servir ás refeições
Nem para cavar os diamantes
Que vossas mulheres irão ostentar em salões
Nem para cuidar das vossas plantações
De algodão e café
Não contem por amas
Para amamentar os vossos filhos sifilíticos
Não contem como operãrios
De segunda categoria
Para fazer trabalho de que vos orgulhais
Nem com soldados inconscientes
Para gritar com o estômogo vazio
Vivas ao vosso trabalho de civilização
Nem com locais
Para vos tirarem os sapatos
De madrugada
Quando regressardes de orgias noctunas
Nem com pretos medrosos
Para vos oferecer vacas
E vender milho a tostão
Nem com corpos de mulheres
Para vos alimentar de prazeres
Nos ócios da vossa abundância imoral
Não contem comigo
Renuncio-me
Eu atingi o zero
E agora podeis queimar
Os letreiros medrosos
Que ás portas de bares  hotéis e recintos públicos
Gritam o vosso egoísmo
Nas frases*“só para brancos”*ou*“coloured men only”*
Negros aqui brancos acolá
E agora podeis acabar
Com os miseráveis bairros de negros
Que vos atrapalham a vaidade
Vivei satisfeitos sem colour lines
Sem terdes que dizer aos fregueses negros
Que os hotéois estão aborratados
Que não há mas mesas nos restaurantes
Banhai-vos descansados
Nas vossas praias e piscina
Que nunca ouvi negros no mundo
Que sujassem as águas
Ou vossos nojentos prenconceitos
Com a sua escura presença
Dissolvei a ku-klux-klan
Que já não há negros para linchar!
Porque hesitais agora!
Ao menos tendes oportunidade
Para proclamardes democracias
Com sinceridade
Podeis inventar uma nova história
Inclusivamente podeis invetar uma nova mística
Direis por exemplo: No princípio nós criámos o mundo
Tudo foi feito por nós
E isso nada me interessa
Ah!
Que satisfação eu sinto
Por ver-vos alegres no vosso orgulho
E loucos na vossa mania de superioridade
Nunca houve negros!
A África foi contruída só por vós
A África foi colonizada só por vós
A europa não conhece civilizações africanas
Nunca houve beijos de negros sobre faces brancas
Nem um negro foi linchado
Nunca matastes pretos a golpes de cavalo-marinho
Para lhes possuirdes as mulheres
Nunca extorquistes propriedades a pretos
Não tendes numa tiveste filhos com sangue negro
Ó racistas de desbragada lubricidade
Fartai-vos agora dentro da moral!
Que satisfação eu sinto
Por não terdes que falsear padrões morais
Para salvaguardar
O prestígio a superioridade e o estômago
Dos vossos filhos
Ah!
O meu suicídio é uma novidade histórica
É um sádico prazer
De ver-vos bem instalados no vosso mundo
Sem necessidade de jogos falsos
Eu elevado até o zero
Eu transformado no nada-histórico
Eu no início dos tempos
Eu-nada a confundir-me com vós-tudo
Sou o verdadeiro cristo da humanidade!
Não há nas ruas de luanda
Negros descalços e sujos
E pôr nódoas nas vossas falsidades colonização
Em lourenço marques
Em new york em leopoldville
Em cape town
Gritam pelas ruas
Fogueteando alegria nos ares
- Não há negros  nas nuas
Nunca houve
Não há negros preguiçosos
A deixar os campos por cultivar
E renitentes á escravização
Já não há negros para roubar riqueza
Toda a riqueza representa agora o suor do rosto, e o suor do rosto é a poesia da vida!
Viva!

Não existe música negra
Nunca houve batuque na floresta do congo
Quem falou em spirituals?
Os salões enchem-se de Debussy Strauss Korsakoff que não há selvagens na terra.

Viva a civilização dos homens superiores
 Sem manchas negróides a pertbar-lhe a estética!
Viva!

Nunca houve descobrimentos
A África foi criada com o mundo

O que é a colonizacao?
O que são os massacres de negros?
O que sao os esbulhos de propriedade?
Coisas que ninguém conhece

A hisória esta errada
Nunca houve escravatura
Nunca houve domínio de minorias
Orgulhosas da sua força

Acabai com as cruzadas religiosas
A fé está espalhada por todo o mundo
Sobre a terra só há cristaos
Vós sois todos cristãos

Não há infiéis por converter
Escusais de imaginar mais infedilidades religiosas para justificar
Repognantes actos de barbarismo
Não necessitais enviar mais missionários a        África 


Nem aos bairros dos negros
Nunca houve mahamba
Nem consepções religiosas diferentes
Nunca houve religiosos auxiliar a ocupação militar

Acabai como os missiónarios
Os seus sofismas
Os seus milagres
Inventados para justificar ambições e vaidade
Posuís tudo tudo
E sois todos imãos
Continuais com os vossos sistemas políticos
Ditaduras democracias
Isso é convosco
Explorai o plorietariado
Matai –vos uns aos outros
Lutai pela glória
Lutai pelo poder
Criai minorias fortes
Apadrinhai os afilhados dos vossos amigos
Criai mais castas
Aborguesai as ideias
E tudo sem a complicacao
De verdes intrusos
Imiscuir- se na vossa querida
Defendida civilizacoesnde homens
Previlegiados

E agora
Homens irmãos
Dai-vos as mãos
Gritai a vossa alegria de serdes sós
SÓS!
Únicos habitantes da terra

Eu atingui o zero
Isso simplifica extraordinariamente a vossa ética ao menos
Não percais a ocasião para serdes honestos
Se houver terramotos
Calamidades cheias ou epidemias
Ou terrras a defender da invasão das águas
Ou motores parados em lamas africanas
Raios vos partam!
Já não tereis de chamar-me
Para acudir ás vossas desgraças
Para reparar os vossos desastres
Ou para carrregar com a culpa das vossa  incúrias
Ide para o diabo!
Eu não existo
Palavra de honra que nunca existi
Atingui o zero
O nada

Abençoada a hora
Do meu supersuicídio
Para vós
Homens que construís sistemas morais
Para enquadrar imoralidades

O sol brilha só para vós
A luta reflete luz só para vós
Nunca houve esclavagistas
Nem massacres
Nem ocupacoes da África

Como até a história
Se transformar num tratado de moral
Sem necessidade de arranjos apressados!

Os pretos dos cais não existem
Nunca foram ouvidos cantos dolentes
Misturados com a chiadeira dos guindastes
Nunca pisaram os caminhos do mato
Carregadores com cem kilos ás costas
São os motores que se queiman sob as cargas

O pretos submissos humildes ou tímidos
Sem lugar nas cidades
Ou nos escanios da honestidade
Ou nos recantos da força
Dançarinos com a alma pousada no sinal menos
Polígamos declarados
Dançarinos de batuques sensuais
Sabeis que subistes todos de valor
Atinguistes o zero sois nada
E salvastes o homem

Acabou-se o ódio
E o trabalho de civilização
E a náusea de ver meninos negros
sentados na escola
ao lado de meninos de olhos azuis
e as extorsoes e conpulcoes
e aspalmatoadas e torturas
para abrigar inocentes a confessar crimes
e medos de revolta
e as complicadas démarches políticas
para iludir as almas simples
para iludir as almas simles
acabaram-se as complicacoes sociais!

Atingiu o zero
Cheguei á hora do início do mundo
E resolvi não existir

Cheguei ao zero – espaço
ao nada-tempo
ao eu conincidente com vós-tudo
e o que é mais importante:
salvei o mundo!

                               
Autor:Agostinho Neto.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...